Um <i>ballet</i> em <i>reprise</i>

Aurélio Santos

PS e PSD andam há anos apresentando-nos o mesmo ballet: branco por fora, amarelo por dentro. Como o ovo.

Pois o ballet teve reprise a propósito da moção pré-datada do BE.

Mas será que algum desses dois partidos tem realmente vocação e capacidade de bem governar?

O decorrer dos anos tem mostrado com evidência crescente que qualquer deles tem por objectivo não enfrentar e resolver problemas mas sim alcançar o poder – e, uma vez aí instalados, manter-se no poder.

É neste vazio rotativo que qualquer um deles, sem diferenças de substância, mas com igual apego, tem governado, e governado sempre por delegação de poderes, concedida pelo verdadeiro poder que se esconde por detrás deles: o grande capital, do qual se comportam como passivos executantes.

É esta a mesquinha direita que temos. Direita porque as opções do PS na prática governativa acabaram por o indiferenciar da direita formal PSD. Tendo ambos em comum o facto de serem garantia da continuação entre nós do poder da direita económica. Com uma agravante para o PS: é que, dizendo-se de esquerda, desacredita a esquerda e degrada a democracia.

Mas será fatal que um país de pequena geografia seja governado por uma política de pequenez? E poderão os portugueses rever-se nesta direita política cuja única ambição tem como horizonte revezar-se periodicamente no poder?

Não.

Refém do grande poder económico, concentrada na crispação de não perder o lugar, esta direita por sua própria e única natureza parasitária do poder será sempre incapaz de elaborar e rasgar novos rumos, de enfrentar os desafios necessários ao melhoramento do País, de encarar o futuro com a coragem cada vez mais exigente que as dificuldades impõem.

Dificuldades do País – são muitas. Mas em todas elas as direitas têm a sua inconfundível marca contributiva e em cujo contexto a direita não governamental se mantém expectante, à espera de vez, enquanto a direita governativa apela à convergência de esforços, de todos e cada um, para fazer face à crise.

Passa em claro uma questão importante: convergência em nome de quê e em defesa de quais interesses?

Os da minoria que o Governo defende e protege?

Ou os da imensa maioria por eles espoliada?



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